Diners Club e o início do que seria os cartões de crédito

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Era 1949, em um restaurante movimentado de Nova York, quando Frank McNamara viveu um daqueles momentos que a gente torce para nunca acontecer: na hora de pagar a conta do jantar com seus amigos de negócios, Ralph Schneider e Matty Simmons, ele percebeu que tinha esquecido a carteira. O que poderia ter sido apenas uma noite constrangedora acabou se transformando em uma revolução no mundo dos negócios.

Frank não era um cara qualquer no mundo dos negócios. Nascido em 1894, em Nova York, ele já tinha feito nome no setor de publicidade e relações públicas. Era daqueles sujeitos que sabiam fazer acontecer, com uma habilidade natural para conectar pessoas e ideias. Casado com Clara McNamara e pai de dois filhos, ele levava uma vida relativamente discreta, apesar de seu talento para os negócios.

Após aquela noite do jantar (que, diga-se de passagem, só foi paga porque sua esposa trouxe o dinheiro até o restaurante), Frank começou a matutar uma ideia. Por que não criar um sistema que permitisse às pessoas pagarem suas contas sem precisar carregar dinheiro? Foi assim que nasceu o Diners Club, o primeiro cartão de crédito produzido em larga escala no mundo.

O sistema inicial era bem diferente do que conhecemos hoje. Nada de chip, senha ou aproximação. O primeiro cartão nem era de plástico – era feito de papel! O processo de pagamento parecia uma pequena aventura: o comerciante pegava uma máquina manual (chamada de “impressor manual” ou “impressora portátil”), colocava o cartão com uma folha de papel carbono por cima e deslizava tudo junto. Saíam duas vias: uma para o estabelecimento e outra para o cliente. Era comum o papel carbono borrar, e às vezes era preciso fazer todo o processo novamente.

O nome “Diners Club” não foi escolhido à toa. A ideia inicial era focar em restaurantes e entretenimento, especialmente para executivos e viajantes de negócios. O cartão funcionava num sistema interessante: o Diners Club pagava os estabelecimentos e depois cobrava dos clientes, ganhando uma pequena taxa em cada transação. No primeiro ano, a anuidade era de apenas US$ 3 – uma pechincha comparada aos valores de hoje!

O sucesso veio rápido, mas não sem obstáculos. Em 1951, já havia mais de 20 mil membros e mil estabelecimentos parceiros. Porém, muitos comerciantes resistiam à ideia. Alguns achavam que era complexo demais, outros temiam que fosse algum tipo de golpe. A equipe do Diners Club teve que fazer um trabalho intenso de convencimento, estabelecimento por estabelecimento.

Em 1955, o Diners Club começou sua expansão internacional, chegando primeiro ao Canadá e depois se espalhando pelo mundo. No Brasil, a história começou em 1959, pelas mãos de Humberto Ribeiro e Fernando Lara Resende. No início, era um cartão extremamente exclusivo – só a nata da sociedade tinha acesso. Com o tempo, foi se popularizando, mas sempre manteve uma imagem de produto premium.

Uma curiosidade interessante é que o Diners Club foi pioneiro em várias práticas que hoje são comuns no mercado. Foi o primeiro a criar programas de recompensas para clientes, o primeiro a fazer cartões de plástico (uma inovação e tanto na época), e o primeiro a ser aceito em diferentes tipos de estabelecimentos. Eles também introduziram a ideia de fatura mensal – antes disso, era tudo pago na hora ou através de cadernetas.

Mas nem tudo eram flores. À medida que o mercado crescia, surgiram concorrentes de peso. American Express, Visa (então BankAmericard) e Mastercard (antes Master Charge) começaram a disputar espaço. O Diners Club teve que se reinventar várias vezes para se manter relevante. A gestão de inadimplência também era um desafio constante – afinal, estavam criando do zero um sistema de análise de crédito.

Crescimento do Diners Club (1950-1955) 0 50k 100k 150k 250k 0 5k 10k 15k 20k 1950 1951 1952 1953 1955 Número de Membros Estabelecimentos Parceiros Fonte: Dados históricos do Diners Club compilados de diversas fontes

Frank McNamara, curiosamente, vendeu sua parte na empresa em 1952, por cerca de US$ 200 mil – uma decisão que mais tarde se provaria prematura, dado o crescimento explosivo do mercado de cartões de crédito. Ele passou seus últimos anos dedicando-se a outra paixão: o golfe. Era um jogador ávido e frequentador assíduo de clubes, participando até de torneios amadores.

Quando McNamara faleceu, em 18 de dezembro de 1987, o mundo dos cartões de crédito já era completamente diferente daquele de 1950. O mercado tinha se transformado em uma indústria multibilionária, com tecnologias cada vez mais avançadas. Mas tudo começou com aquele jantar embaraçoso e a ideia de que deveria haver uma forma melhor de pagar as contas.

Hoje, quando fazemos um pagamento por aproximação ou usamos o cartão virtual em compras online, talvez não pensemos muito sobre como tudo isso começou. Mas foi preciso alguém passar por um momento constrangedor e ter a visão de transformar isso em oportunidade para chegarmos até aqui.

Considerando que o mercado global de cartões de crédito movimenta hoje trilhões de dólares anualmente, é curioso pensar que tudo começou com um cara sem grana pra pagar o jantar. E aí, qual sua estimativa de quantos “momentos McNamara” acontecem todos os dias no mundo? Deixe nos comentários sua aposta sobre quantas pessoas esquecem a carteira em restaurantes neste exato momento – bônus se incluir a margem de erro no seu cálculo!

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